Um estudo recentemente publicado soa como o início de uma grande história de ficção científica: uma pedra, recuperada em 1996, no sul do Egito, deixou cientistas confusos porque, embora definitivamente vinda do espaço, não se parece com nenhum meteorito ou asteroide regular e, a mais recente análise, mostra que os micro minerais dentro dela são diferentes de qualquer coisa que já encontramos aqui ou em qualquer outro lugar.
Meteoritos regulares são feitos, principalmente, de silício com um pouco de carbono, muito semelhante à composição do nosso planeta, mas a pedra de Hypatia, como foi nomeada, é o oposto, conforme relatado na revista Geochimica et Cosmochimica Acta.
A pedra possui uma enorme quantidade de compostos de carbono e quase todos se transformaram em micro-diamantes.
Alguns dos compostos de carbono são particularmente interessantes, pois são conhecidos como hidrocarbonetos poliaromáticos (HAP), um dos principais componentes do pó interestelar e, há ainda, coisas mais incomuns, como o alumínio puro.
“O alumínio apenas ocorre em forma metálica pura por conta própria e não em um composto químico com outros elementos”, disse um dos autores da pesquisa, Georgy Belyanin, da Universidade de Joanesburgo, em um comunicado. “Como comparação, o ouro ocorre em pepitas, mas o alumínio não. Essa ocorrência é extremamente rara na Terra e no resto do nosso sistema solar, tanto quanto é conhecido na ciência”.
A pedra também possui um mineral chamado moissanite, um composto de carboneto de silício, em uma forma inesperada e grãos de níquel e fósforo com muito pouco ferro, outra combinação nunca antes observada na Terra.
Todos esses fatores sugerem que a formação do objeto é anterior à origem do Sistema Solar.
“A pedra simplesmente não se encaixa com o que conhecemos de nossas rochas espaciais locais. O que sabemos é que a Hypatia foi formada em um ambiente frio, provavelmente em temperaturas inferiores à do nitrogênio líquido na Terra, que é de -196° centígrados”, explicou o professor Jan Kramers, outro pesquisador do projeto. “Ela teria vindo de um local muito mais distante do que o cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, que é de onde vem a maioria dos meteoritos”.
Dr. Georgy Belyanin da UJ (à esquerda), Prof Jan Kramers (centro) e doutoradando Tebogo Makhubela (à direita).
“Os cometas vêm principalmente do Cinturão de Kuiper, além da órbita de Netuno e cerca de 40 vezes mais longe do Sol que nós”, continuou ele. “Alguns outros vêm da Nuvem de Oort, ainda mais longe. Sabemos muito pouco sobre as composições químicas de objetos espaciais lá fora, então a nossa próxima etapa é descobrir de onde Hypatia veio”.
A pedra foi nomeada em homenagem a Hypatia de Alexandria, a grande filósofa, matemática e astrônoma do século IV. Ela foi assassinada e desmembrada por uma multidão de monges cristãos, provavelmente devido aos ciúmes do bispo Cirilo de Alexandria, que, mais tarde, foi considerado santo pela Igreja Católica.