À esq., raio-x de uma rocha carbonática, mesma composição encontrada nos reservatórios do pré-sal; e à dir., raio-x de um corte do ventrículo esquerdo de um coração de camundongo
O Sirius, a maior construção científica já feita no Brasil, estimada em R$ 1,8 bilhão, revelou suas primeiras imagens nesta quinta-feira (19). Trata-se de dois raios-x, um tirado de uma rocha e outro do coração de um camundongo.
Neste primeiro teste simples, como definiram os cientistas, e realizado a uma potência 13 mil vezes menor do que a projetada para a máquina, foi possível observar a chegada da luz síncrotron (de extrema potência e velocidade) pela primeira vez em uma das futuras estações experimentais do Sirius.
Segundo a cientista que fez as primeiras análises, Nathaly Archilha, trata-se apenas de um teste, mas ele representa o marco de um novo patamar alcançado pela ciência nacional.
“Estamos trabalhando em condições de testes e, mesmo assim, os raios X de alta energia produzidos pelo Sirius impressionam. Além de aumentarmos a qualidade da imagem, vamos conseguir analisar amostras de maior tamanho. Esse é um ponto importante, quando planejamos investigar rochas do pré-sal, por exemplo”, afirmou.
Ela disse ainda que as imagens são um marco para o projeto, pois mostram que o equipamento funciona como planejado.
“Essas imagens demonstram que, mesmo em uma fase preliminar de comissionamento da máquina, já é possível utilizar a luz gerada para testar amostras reais nas estações experimentais”, afirmou a cientista à BBC News Brasil.
As primeiras imagens, feitas em uma estação experimental, têm a finalidade de avaliar uma série de sistemas do Sirius. Elas vão guiar os ajustes necessários para que a luz síncrotron atinja a qualidade exigida, e assim sejam feitos experimentos científicos de altíssimo nível, muitos deles inéditos no mundo.
No entanto, o raio-x é apenas uma das faixas de luz que serão emitidas pelo Sirius, localizado em uma área rural de Campinas (a 93 km de São Paulo). Quando a estrutura estiver completamente pronta, ela terá a capacidade para abrigar até 40 saídas de linhas de luz. Cada uma delas com um feixe de radiação eletromagnética específico, como raio-x e ultravioleta.
Cada um possibilita o desenvolvimento de estudos em diferentes condições. A conclusão do projeto, incluindo 13 estações de pesquisa, é prevista para 2020. A expectativa é que ele se torne a maior e mais avançada fonte de luz síncrotron — um tipo de radiação eletromagnética de alto fluxo e alto brilho produzida quando partículas carregadas, aceleradas a velocidades próximas à velocidade da luz, têm sua trajetória desviada por campos magnéticos.
O que o Sirius é capaz de fazer?
O aparelho poderá analisar de maneira inédita a estrutura e o funcionamento de estruturas micro e nanoscópicas, como nanopartículas, átomos, moléculas e vírus. É como se os pesquisadores pudessem tirar um raio-x em três dimensões, e em movimento, de materiais e partículas extremamente pequenas e densas, como pedaços de aço e rocha, e até de neurônios.
Isso pode levar, por exemplo, à criação de uma bateria para celular que, quando carregada apenas uma vez, dure cinco anos.
O Sirius será o segundo acelerador de partículas de 4ª geração do mundo, mas será o mais moderno por diversos fatores, principalmente por emitir luz com o brilho mais intenso e capacidade superior de análise.