O Brasil vive a maior onda de queimadas dos últimos cinco anos, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Programa Queimadas do instituto, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, registrou 71.497 focos de incêndio entre os dias 1 de janeiro e 18 de agosto deste ano. O número é 82% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 39.194 focos de incêndio. A última grande onda é de 2016, com 66.622 focos de queimadas entre essas datas.
Não está claro quanto os incêndios dos últimos dias de fato influenciaram na escuridão em São Paulo nesta segunda. O INPE admitiu que um corredor de fumaça avançou em direção ao centro-sul do país e chegou a São Paulo, mas garantiu que esta não era a principal causa para a escuridão. Mas especialistas já vêm alertando para o fenômeno há alguns dias. A MetSul, empresa de meteorologia do sul do país, publicou em seu Twitter na noite do último sábado, 17 de agosto, uma fotografia de uma lua alaranjada vista de Livramento, na fronteira do Brasil com o Uruguai. A tonalidade era causada pelo efeito óptico gerado pelas partículas na atmosfera vindas dos incêndios no norte do país. No mesmo fim de semana, o astrônomo Jorge Melendez, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, alertava na rede social sobre o mesmo fenômeno visto de São Paulo.
Em imagem de 19 de agosto, 18h, manchas vermelhas mostram alta concentração atmosférica de monóxido de carbono (CO) nos Estados do Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, passando por Bolívia e Paraguai. Indicam queimadas em andamentoWINDY.COM
Fires are burning across central South America. Yesterday #NOAA20's OMPS instrument detected the aerosol index – an index that detects the presence of particles like soot and dust in the atmosphere – in the vicinity of the fires. This can help inform air quality forecasts. https://t.co/lCMwTqWxtA
— Joint Polar Satellite System (JPSS) (@JPSSProgram) August 19, 2019
Não está claro quando a última onda de queimadas começou. Imagens de um forte incêndio em Rondônia rodaram as redes sociais no fim de semana, assim como da capital Porto Velho submersa em uma nuvem de fumaça. Entre às 17h e 18h desta segunda, imagens de satélite em tempo real de diversas empresas e instituições internacionais —entre elas a NASA— mostravam alta concentração atmosférica de monóxido de carbono (CO) no Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. O incêndio também atingiu ao longo do fim de semana partes da Bolívia e do Paraguai, que finalmente conseguiu controlar as chamas na tarde desta segunda após 21.000 hectares da reserva Três Gigantes, na região da Tríplice Fronteira, queimarem. Os mesmos satélites mostraram ao longo dos últimos dias uma forte cortina de fumaça avançando em direção ao centro-sul do Brasil.
A AMAZÔNIA EM CHAMAS
O estado de alerta é geral, a sequência de imagens mostram queimadas no último fim de semana em Rondônia, Acre, Pará e Amazonas. São milhares de focos de incêndio e a fumaça cobre toda a região causando terror e desespero aos moradores
Pará
Acre
Rondônia
Amazonas
Manaus – Amazonas
São Paulo começou a tarde desta segunda-feira (19) com o céu encoberto por nuvens e o “dia virou noite”. O fenômeno está relacionado à chegada de uma frente fria e também de partículas oriundas da fumaça produzida em incêndios florestais.
Segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), por conta do tempo úmido e da entrada de ar de origem polar, a temperatura caiu moderadamente desde as primeiras horas da madrugada.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), além da frente fria, a escuridão também é causada pela fumaça de queimadas na região amazônica.
“O material particulado, oriundo da fumaça produzida por esses incêndios silvestres de grande porte, conjugado com o ar frio e úmido que está no litoral de São Paulo, causou a escuridão”, diz Franco Vilela, meteorologista do Inmet.
Porto-Velho
SÃO PAULO
A cidade ‘está dentro de uma nuvem’, segundo o Inmet. Fumaça de queimadas contribuiu para escuridão, diz Climatempo.
O tema “são 15h” em São Paulo acompanhado de fotos com o céu muito escuro para o horário foi um dos trending topics do Brasil.
Além disso, a cidade “está dentro de uma nuvem” por causa da atuação de duas massas com temperaturas diferentes.
“Isso acontece por conta dessa convergência de massas tão diferentes. A frente fria da capital, junto com as temperaturas amenas que vêm do oceano e do vento quente do interior, provocam essa turbulência e isso baixou o nível da nuvem. Assim, nós estamos dentro de uma nuvem,” diz Helena Balbino, meteorologista do Inmet.
Segundo o Climatempo, a fumaça proveniente de queimadas na região amazônica, nos estados do Acre e Rondônia e na Bolívia, chegou a São Paulo pela ação dos ventos.
“A fumaça não veio de queimadas do estado de São Paulo, mas de queimadas muito densas e amplas que estão acontecendo há vários dias em Rondônia e na Bolívia. A frente fria mudou a direção dos ventos e transportou essa fumaça pra São Paulo”, diz Josélia Pegorim, meteorologista do Climatempo.
“Aqui na região da Grande São Paulo a gente teve a combinação desse excesso de umidade com a fumaça, então deu essa aparência no céu”, completou.
No final de semana, a direção do vento estava levando a fumaça para o Sul do Brasil. Com a chegada da frente fria no Sudeste, a fumaça começou a ser direcionada para o estado de São Paulo, segundo o Climatempo.
Os meteorologistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que também monitora o clima no país, ainda não verificaram influência das queimadas no aumento na nebulosidade que tornou o céu da capital tão escuro.
“O vento até pode trazer essa fumaça de queimadas, mas teria que ser bem intenso o incêndio. Geralmente, isso ocorre mais com fumaça de vulcões”, diz Caroline Vidal, meteorologista do Inpe.
O tema “são 15h” em São Paulo acompanhado de fotos com o céu muito escuro para o horário é um dos trending topics do Twitter no Brasil.
São Paulo, 3:30 PM #gothamcity pic.twitter.com/KyR1YOGg8q
— Leandro Mota (@leandromota_) August 19, 2019
Previsão do tempo
De acordo com as estações meteorológicas automáticas do CGE, os termômetros apontam 16°C em Perus, na Zona Norte, e 13°C em Parelheiros, no extremo da Zona Sul. A umidade relativa do ar nesses locais é respectivamente de 85% e 100%. O Aeroporto de Congonhas, na Zona Sul, funciona normalmente.
Nas próximas horas o tempo seguirá fechado e chuvoso. Com os fortes ventos, a sensação de frio irá aumentar e áreas de instabilidade que se deslocam do interior para a capital podem provocar chuvas com “moderada intensidade”.
Durante a noite, chuvas com forte intensidade e trovoadas e rajadas de vento podem atingir a capital paulista.
Vista da zona norte de São Paulo com céu encoberto, garoa e frio às 16h desta segunda- feira (19). — Foto: Alex Silva/Estadão Conteúdo
Vila das Belezas, na Zona Sul de São Paulo, também fica escura — Foto: Ana Paula Campos/TV Globo
Via G1