O fim do mundo pode acontecer de diversas maneiras, depende de para quem você pergunta. Por exemplo, alguns acreditam que o cataclismo global vai acontecer quando os pólos magnéticos da Terra se inverterem. Quando o norte virar o sul, os continentes vão se mover, gerando terremotos massivos, mudanças climáticas e a extinção das espécies.
O histórico geológico mostra que os pólos já se reverteram centenas de vezes na história; isso acontece quando grupos de átomos de ferro no núcleo externo líquido da Terra se alinham de maneira oposta, como ímãs orientados para a direção oposta daqueles que estão ao redor.
Quando os inversos chegam a ponto de dominar o núcleo, os pólos da Terra se invertem. A última vez que isso aconteceu já faz cerca de 780 mil anos, na Idade da Pedra, e realmente há evidência de que o planeta esteja nos estágios iniciais de mais uma reversão.
Mas nós deveríamos mesmo se preocupar com esse evento? Os continentes vão se partir ou estamos preocupados por nada?
“A mudança mais dramática que pode ocorrer, com a reversão dos pólos, é uma grande diminuição na intensidade do campo magnético”, afirma Jean-Pierre Valet, que conduz pesquisas em mudanças geomagnéticas no Instituto de Física Terrestre de Paris.
O campo magnético da Terra leva entre mil e 10 mil anos para se reverter, e durante esse processo, ele diminui muito até se realinhar. “Não é uma mudança súbita, mas um processo lento, durante o qual a força do campo fica fraca, ele pode mostrar mais de dois pólos durante um tempo, para então ficar forte e se alinhar na posição contrária”, comenta a cientista Monika Korte.
Os cientistas dizem que é o enfraquecimento a pior fase para os terrestres. De acordo com John Tarduno, professor de geofísica na Universidade de Rochester, um campo magnético forte ajuda a proteger a Terra da radiação solar. “Ejeções de massa coronal algumas vezes atingem a Terra”, afirma. “Algumas das partículas associadas às EMC podem ser bloqueadas pelo campo. Com um fraco, o escudo é menos eficiente”.
As partículas carregadas que bombardeariam a Terra, durante as tempestades solares, iriam cavar buracos na atmosfera, e isso poderia machucar os humanos. “Buracos na cama de ozônio poderiam se formar com a interação de reações químicas. Eles não seriam permanentes, mas poderiam existir durante um até dez anos – o que é significante em termos de câncer de pele”, afirma Tarduno.
Valet concorda que um campo magnético mais fraco poderia levar a formação de buracos na camada de ozônio. Ele escreveu um artigo no ano passado comentando a ligação entre o fim dos Neandertais, nossos primos ancestrais, e a diminuição na intensidade do campo magnético, que ocorreu no mesmo período. (Nesse momento, o enfraquecimento não chegou a provocar uma mudança de pólos).
Outros cientistas não estão convencidos de que exista uma conexão entre a reversão dos pólos e a extinção de espécies. “Mesmo que o campo fique muito fraco, na superfície da Terra nós estamos protegidos da radiação pela atmosfera. Assim como não conseguimos perceber a presença geomagnética agora, provavelmente não sentiríamos nenhuma mudança significativa com uma reversão”, afirma Korte.
Nossa tecnologia, entretanto, com certeza estaria em perigo. Mesmo hoje, tempestades solares podem danificar satélites, causar apagões e interrupção das comunicações de rádio. “Esse tipo de influência negativa com certeza iria aumentar se o nosso campo ficasse mais fraco, e seria importante encontrar estratégias de segurança”.
Outra preocupação adicional é que a diminuição e reversão do campo desorientariam todas as espécies que utilizam o geomagnetismo para se orientar, incluindo abelhas, salmões, tartarugas, baleias, bactérias e pombos. Não há consenso entre os cientistas sobre como essas criaturas se orientariam.
Mudanças continentais?
Os cientistas afirmam que muitos dos desastres no imaginário popular são pura fantasia. Definitivamente não aconteceria nenhuma quebra ou mudança nos continentes.
A primeira prova é o histórico geológico. Quando a última mudança dos pólos aconteceu, “nenhuma mudança na ordem dos continentes ou desastre ocorreu, e os fósseis estão aí para provar isso”, comenta o geólogo Alan Thompson.
Os cientistas explicam que as mudanças no núcleo líquido da Terra acontecem em uma instância completamente diferente das convecções no manto terrestre (que geram os movimentos nas placas tectônicas e nos continentes). O núcleo líquido realmente encosta-se no fundo do manto, mas levaria dezenas de milhões de anos para as mudanças internas influenciarem o movimento das placas.
Mais cedo ou mais tarde
O campo magnético está no momento se enfraquecendo, provavelmente devido a um crescimento na reversão do núcleo líquido embaixo do Brasil e do Atlântico Sul. De acordo com Tarduno, a força do campo magnético terrestre “vem diminuindo por pelo menos 160 anos a um nível muito rápido, o que leva alguns cientistas a especular que estamos caminhando para uma inversão”.
Isso talvez possa acontecer, ou não. A Terra é um sistema muito complexo para os cientistas adivinharem o que esperar. De qualquer modo, o processo vai levar alguns milhares de anos, o que nos dá tempo para nos ajustarmos às mudanças. [LiveScience]